7.4.14


Golpe Militar de 1964

Vivi, no meu tempo na Terra, tempos difíceis e desafiantes provenientes do golpe militar de 1964 que redundou na ditadura. Foram tempos tenebrosos, mas de muito aprendizado e coragem.
Toda aquela gente estava às cegas. O perigo de implantação do Comunismo no Brasil fez a todos reféns do arbítrio. Os tempos eram outros e o medo de uma ditadura comunista era enorme. Tinha lá a sua razão de ser, mas ditadura por ditadura, nenhuma serve.
O medo de uma ditadura veio a apavorar a tantos outros que viram suprimidos os seus desejos de liberdade plena, de democracia vigorante, de respeito à individualidade.
O que se viu foi a provocação do radicalismo. É sempre assim, violência gera sempre mais violência, conquanto a paz gera sempre a paz.
Por faltar o diálogo soberano, sobrou o autoritarismo febril.
Por faltar a sensibilidade, sobrou a violência servil.
Por faltar o amor, sobrou o ódio bravio.
Nada disso nos serve e deve ser lembrado constantemente para que jamais seja repetido.
Acolhi, muitas vezes, fugitivos da ditadura. Eram irmãos nossos que imaginavam estar defendendo algo melhor do que nos servia. Uns conscientemente, outros, nem sabiam para onde tudo iria.
Uns mais ideologizados, focados num projeto de futuro distorcido. Outros, apenas, marionetes de outras ditaduras.
Neste contexto, fui tachado, igualmente, de comunista. Ora, pensar na eliminação da pobreza, no direito as liberdades, agir com coerência e sem medo, me levou a uma rotulação barata e inconsequente.
Jesus não nos ensinou a suprimir o direito do próximo, mas a respeitá-lo e ampliá-lo cada vez mais. Como imaginar que uma ditadura comunista iria respeitar este direito sagrado?
Jesus nos ensinou a nos aproximarmos de Deus Pai e pergunto: como conciliar o ateísmo materialista com a crença na divindade?
Como conciliar tantas incoerências com um padre que só dizia isso, o tempo todo, mas não importava, não era ouvido, eles ouviam o que queriam ouvir e ponto final. Era a loucura total, de um lado e de outro.
Tudo isso acabou um dia e tinha que acabar. A insanidade foi-se embora, bateu-se em retirada, e novamente veio reinar a paz social com o direito as liberdades. Pode ser que estejamos ainda distantes do ideal, mas é preferível buscar a perfeição das relações no diálogo e tentativa com erros do que alguém nos impor a sua vontade deliberadamente e nada podermos fazer por causa da força descomunal do autoritarismo.
Vejo do lado de cá da vida muitos arrependidos. Olham para trás e se questionam: “que causa eu defendi?”
Tudo isso nos serve de lição para não repetir mais. Então é necessário, imprescindível até, que se divulgue, mais e mais, o que foi aquele período macabro para que esteja sempre em nossa memória e tomemos medidas cautelares contra o abuso, venha de onde vier.
Viva a liberdade!
Viva o respeito ao ser humano!
Viva a paz!
Helder Camara

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