21.7.14


Ver e Olhar

Morre o nosso querido Rubem Alves.
Palavra doce vinha de sua escrita. Cheia de mel. Gostosa de se ler. Ele era vivaz com o que dizia e escrevia. Era como se suas palavras tivessem vida, saltassem aos nossos olhos, tamanha a limpidez de como descrevia.
Rubem Alves se foi para o povo de Deus aí entre vocês, mas ganhamos um poeta dos bons para iluminar ainda mais os céus.
Espero Rubem Alves podermos nos encontrar logo. Quando você abrir os olhos do lado de cá da vida vai encontrar muita surpresa. Vai encontrar também a normalidade dos dias que nos pede trabalho e ação, meu caro.
A vida, Rubem, é este olhar detido em cada coisa, como você bem expressou. Precisamos aprender a ver as coisas e não simplesmente olhá-las.
Olhar, tirando aqueles desprovidos da visão física, toda a gente pode fazer. Passam os olhos nas coisas, nas pessoas, na natureza, e nada registram de extraordinário. Tem a impressão que é tudo igual, nada demais.
Ver é diferente, exige compreensão abstrata das coisas, porque ver é ir além do aparente, do superficial, do elementar.
Ver exige sensibilidade para entrar nas coisas, percebê-las por dentro, o que elas realmente representam.
Vejo pessoas passarem pela vida e não enxergaram um palmo além do seu nariz. Pobres coitadas. São mais cegos, muitas vezes, do que aqueles que desprovidos dos sentidos de ver.
Tem gente cega que vê mais do que milhões de pessoas juntas. Sabe por quê? Porque consegue enxergar a essência de tudo.
Isto é ver: enxergar a essência das coisas.
Ver a alma e não apenas um rostinho bonito.
Ver a luminosidade fulgurante ao redor de uma simples folha.
Ver a solidão de alguém que aparenta alegria.
Ver a verdade de quem é pura hipocrisia.
Ver a si próprio, transparente, do jeito que é. Esta é a visão que Deus quer.
Tenha bons olhos do lado de cá, meu bom Rubem. Todos aguardamos o seu despertar para juntos continuarmos a ver a vida como ela é e nos surpreender da beleza inesgotável do nosso Criador.
Paz,
Helder Camara

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