13.1.15


Um Ataque à Democracia

Vimos, todos nós, nesta semana uma desgraça. Presenciamos um atentado à democracia. Refiro-me ao episódio que ocorreu na França quando militantes islâmicos assassinaram quatro cartunistas da revista Charlie Hebdo e outros mais cidadãos que redundou, posteriormente, nos seus próprios assassinatos pela polícia e alguns mais cidadãos.
Uma desgraça porque é um ato triste que afeta a todos os irmãos. Afeta aos cidadãos franceses, mas afeta também todos os cidadãos islâmicos, e, por tabela, a toda a humanidade terrestre.
É uma desgraça porque ninguém ganha com o que aconteceu. Todos saem literalmente perdendo. De um lado, discute-se a questão da liberdade de expressão, de outro, os direitos religiosos de todo um povo. E mais ainda perde a democracia porque passa a ser questionada até onde vai o direito de uso da liberdade.
Penso que o assunto é complexo para rápidas considerações num artigo de blog. Há muitos interesses em jogo e não podemos ser simplistas nos nossos argumentos.
A democracia sai ferida porque ela se sustenta na liberdade e a liberdade não pode promover a destruição. A democracia não pode trazer morticínio. A democracia não pode trazer o terror. A democracia deve trazer o encontro de irmãos para juntos, num regime de respeito recíproco, trazer a felicidade coletiva. E isto não foi o que aconteceu nesta ocasião.
Por um lado, a liberdade de expressão foi mal usada. Por outro, o excesso em nome ao zelo do nome e da figura de Maomé, foram as justificativas utilizadas para eliminar pessoas. Dois comportamentos abomináveis.
No centro de tudo está a ausência de amor.
Não houve, em nenhum momento, a lembrança de como o outro se sentiria. Não houve entre eles o sentimento de empatia e consideração. Não houve respeito entre as partes. O resultado foi esta catástrofe sem precedentes com danos irreversíveis e consequências imprevisíveis.
Quando defendemos o amor como a base das relações humanas numa referência clara aos ensinamentos de Nosso Senhor Jesus Cristo é porque se houvesse a presença soberana do amor neste acontecimento nada disso teria ocorrido. Tudo teria sido evitado, meus irmãos. Todos estariam aqui contando as suas histórias e tocando as suas vidas normalmente.
Estive na França, ontem, para observar o clima geral. O que vi é um sentimento misto de consternação e indignação. Consternação pelo que aconteceu e indignação quanto ao abrupto procedimento dos radicais religiosos que, em momento algum, devem ser confundidos com o povo islâmico que veementemente repudia este atentado.
Nuvens escuras pairam sobre a França. Há um sentimento coletivo de revolta e isto não é bom. A tendência, nestes casos, movido pela emoção geral, é se tomar outras medidas radicais como resposta imediata e aí, sem proceder ao devido cuidado, virará uma roda giratória de ações e contrarreações fomentando ainda mais o ódio e o terror.
Neste momento, pedimos pela paz e pela serenidade de espíritos. Se o amor não presidiu os atos das duas partes em passado recente, não devemos incorrer nos mesmos erros. Devemos dar imediatamente uma trégua, parte a parte, e repensar uma relação sadia e construtiva, sobretudo porque observamos, de todos lados, oportunistas que querem se aproveitar deste instante de instabilidade para gerar a desorganização coletiva, fomentar a balbúrdia e o desentendimento.
A reflexão que se deve fazer é esta: qual seria o melhor comportamento a adotar, daqui por diante, para estancar esta sucessão de fatos?
Necessitamos voltar rapidamente ao equilíbrio das emoções e evitarmos novas desgraças.
Sabemos que nos planos do Altíssimo tudo é aproveitado para a promoção futura do bem, mas vigiemos para que este bem não seja tardio, que não se proliferem outras atitudes de estímulo ao terror e tampouco o aceleramento do preconceito com toda uma gente num pensamento generalista e infundado que terá consequências danosas.
Alimentemos, meus irmãos, a temperança.
Acalmemos os ânimos e reflitamos as nossas ações na busca da paz e do entendimento.
Sugiro aos dirigentes maiores das nações não apenas se encontrarem entre si, mas também com as lideranças religiosas do Islamismo para que possam dar uma demonstração conjunta de união em torno da paz e que não concordam com atitudes impensadas e insanas de alguns de seus seguidores.
Encontremos, urgentemente, o caminho da paz para asserenar os corações e que possamos retomar a vida com tranquilidade.
Inspiremo-nos na figura de Nosso Senhor Jesus Cristo que respondeu com o silêncio e a compreensão do outro quando lhe feriram e o juraram de morte. Ele ainda tem muito a nos ensinar com seu exemplo de vida.
Busquemos sempre a paz.
Helder Camara

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