16.3.15

Fio de Esperança

Parece que foi ontem que me vi a passear pelas ruas da cidade do Recife. Caminhava sem direção, apenas apreciando a paisagem e vi um menino pedindo esmolas. Isto me feriu bastante. Logo uma crança a pedir pelas ruas. Uma pobre criança. Será que nem lar possui, onde estará a sua mãe? Perguntas e mais perguntas assolavam a minha mente.
Fui ao seu encontro e perguntei:
- Meu filho, cadê a sua mãe que não vê isso? Como ela pode deixar que você esteja a pedir esmolas nas ruas?
- Tenho mãe não, seu padre, por isso estou aqui.
- E seu pai, onde está seu pai, menino?
- Onde, eu não sei. Ele saiu para a vida e me deixou só com a minha mãe, nunca mais eu o vi.
- Então, você é só no mundo? Onde está o resto da sua família?
- Por aí, seu padre. Sei dela não. Depois que minha mãe morreu, me levaram para um orfanato. Eu não gostei de lá e fugi. O senhor não vai me mandar de volta, não é?
- Não, isso não. Sei seu consentimento, você não vai para lugar algum, mas ficar no meio da rua, desse jeito, isto não pode.
- Então, o que o senhor vai fazer por mim?
- Diga-me uma coisa: se eu arranjar uma boa família para você morar, você topa ir comigo?
- Topo. Se eles forem do bem, se eles gostarem de mim e eu deles, eu só tenho a ganhar.
- Então, venha comigo. Tive uma idéia, se der certo... É um amigo meu que estava pedindo para ter um filho, pois sua esposa não conseguia engravidar. Quem sabe ele se “engraçe” de você e lhe adote como filho.
Peguei na mão dele e saímos a caminhar para a direção do posto de gasolina. Ele era proprietário de um posto de gasolina. Pegamos um ônibus e fomos até lá.
- João, tudo bem?
- Dom Hélder, que prazer ter o senhor por aqui.
- Eu também estou surpreso de vir parar no seu estabelecimento comercial, mas me deu uma vontade de vir aqui.
- O que foi que se sucedeu para o senhor bater pernas lá das Fronteiras até o meu humilde estabelecimento?
- Tive uma idéia, João. Não sei se você vai gostar, mas é apenas uma idéia.
- Pode falar, Dom. Vindo do senhor sempre é algo interessante.
- Pois bem, João, veja só. Eu saí para passear um pouco, esticar as pernas e levar um pouco de sol e me deparo com uma cena triste.
- O que foi, Dom, fale logo, posso fazer alguma coisa?
- Pode. É aí que você entra.
- Pode falar, o que estiver ao meu alcance, eu faço.
- Faz mesmo, João?
- Faço, pelo senhor eu faço tudo.
- Não precisa tanto, meu amigo, e nem é realmente para mim. É para um menino que vi pelas ruas.
- O que é que ele tem?
- Exatamente isto, João, ele não tem. Não tem pai nem mãe. E eu pensei, lembrando daquela conversa que tivemos: Por que não levar esse garoto até João? De repente, ele gosta do menino e o menino gosta dele, aí...
Não deu outra. Mandei chamar o “branquelo”. Quando ele olhou para João e João olhou para ele, imediatamente começaram a sorrir um para o outro. Parecia até que já se conheciam. O menino quase chorou de emoção. O João ficou meio tímido diante da situação, mas era igualmente visível a sua emoção.
- E aí, vocês não vão falar nada um para o outro?
- Dom, eu não sei o que está me dando, mas parece que eu conheço este moleque há muito tempo. Vem cá, qual é o seu nome?
Deixei os dois conversando para ver se eles se entendiam. O “namoro” era com os dois e depois com a esposa de João. Daqui a pouco, João chegou para mim e disse:
- Dom Hélder, parece que o senhor me trouxe um presente e dos grandes. Como me identifiquei rapidamente com este menino, parece que somos amigos de um longo tempo. Vou levar para casa e ver se Nice se “engraça” com ele também.
- Leve e depois me diga alguma coisa. Se não for ficar com o menino, pode deixar, eu levo ele de volta.
Dias depois, chegaram os três lá na Igreja.
- Dom Hélder, viemos lhe fazer uma revelação. Dizia João para mim, sorridente, feliz da vida.
- Diga, meu filho, temos novidades?
- Temos sim e das boas. Eu e Nice resolvemos adotar o garoto e ele parece que está gostando da idéia. É como se ele fosse o nosso filho de verdade e havíamos perdido ele por aí.
- Que bom que você pensa assim, meu filho. E você, garoto, quer ficar com eles?
- Quero, seu padre. Nestes dias que fiquei com eles fui muito bem tratado. Parece que eu era de casa. Vamos ficar juntos, sim.
Despediram-se e foram embora. O que ficar desta história que contei? Muito, muito a se aprender, mas, sobretudo, é uma narrativa que traz no seu bojo o fio da esperança.
Quando me vi com a idéia de levar o menino para João tive a esperança que eles ficassem juntos. Quando eles disseram que ficariam com o menino, estavam também respondendo com a esperança. A esperança é acreditar que amanhã tudo pode mudar. Não como um passe de mágica, mas como se tudo estivesse planejado e precisaríamos apenas dar um empurrãozinho na sorte, porque ela, mais cedo ou mais tarde, haveria de chegar, era somente ter um pouco de paciência.
A esperança, minha gente, tem que ser o combustível dos nossos dias na Terra, pois se pensarmos que tudo está definido, sem solução, não teremos sequer razões para viver. Porque temos esperança a vida vale mais a pena de ser vivida. Porque temos esperança nossa vontade de viver e prosseguir vai adiante. Poderia dizer, sem medo algum de errar, que a esperança é o motor da vida.
Por mais que tudo esteja caindo sobre os nossos pés. Por mais que não haja nada mais a ser feito. Por mais que as soluções se escasseem, temos que ter esperança.
“A esperança não é a última que morre, mas é a primeira a renascer”, aprendi com certo amigo aqui no mundo espiritual – e como ele está certo.
Se não fosse pela esperança, Jesus, nosso irmão maior, já teria abandonado de vez toda a humanidade, mas Ele nos dá cotidianamente lições de esperança. E será pela esperança divina que haveremos de ter outro planeta num tempo breve, pois os homens se renovarão. Haveremos de criar outra realidade, bem diferente desta que aí está.
Nós seremos felizes.
Nós modificaremos o mundo.
Nós seremos ricos em prosperidade.
Nós viveremos na justiça total.
Nós construiremos um mundo cheio de amor.
Esta minha esperança imorredoura, meus amigos, me anima a alma todos os dias, é o meu alimento primacial. Por muito ter esperança na humanidade é que estou aqui, mesmo depois de “morto”a escrever continuamente estas linhas, na esperança de ser considerado, levado em conta nos meus raciocínios e reflexões.
O mundo vai mudar e com ele teremos fartura, bem-aventurança, nova realidade, o próprio reino de Deus sobre a Terra, conforme nos assegurou o Nosso Senhor Jesus Cristo.
Um abraço a todos,
Helder Camara

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