13.5.15

Discurso - Ao Meu Recife

Senhores,
A quantas anda a paisagem libertária e liberal do meu Recife?
Onde estão os homens e as mulheres que não baixam as suas cabeças diante das injustiças e dos degredos?
A quem procurar quando nos sentirmos lesados na nossa condição cidadã?
Parece-me que aquela inquietação fervente que sempre caracterizou o meu Recife está dormindo. Afora alguns movimentos sociais que, episodicamente, se manifestam por uma causa ou outra, vejo é o esquecimento da sua base inconformista e progressista.
Onde estão os políticos que bradavam por mais liberdade de expressão no passado?
Por que se calar diante de um governo federal que beira a mediocridade só porque se prende a ele por um quinhão mínimo de recursos e de posição?
Não importa a bandeira partidária, importa a causa libertária.
Foi esta sempre a fleuma dos recifenses e, ademais, de todos os pernambucanos, mas onde está tamanha rebeldia? Em que lugar se esconde o bravo povo do Recife?
Não sou contra governos a, b ou c. Na minha condição espiritual nem isso devo ser. O que está em jogo são práticas ultrapassadas e manter-se no poder ou ser conivente com ele porque não se deseja se “queimar” diante da opinião pública ou de uma parcela sectarista da população. É pensar menor e deixar de ter altivez.
Vejo homens honrosos em todos os flancos, mas não posso, no dever da verdade, dizer que não existem pilantras em todas as facções, oportunistas do poder – seja ele qual for -, larápios do dinheiro público.
O que está em jogo, senhores, é a honradez, é o compromisso com a verdade, é ter mãos limpas, é não ser conivente com o que existe de pior.
Se homens que deveriam acertar erraram, então que se modifique imediatamente o estado de coisas reinante. O que não se pode é tentar encontrar subterfúgios para cobrir as “marmeladas”.
Quando defendo tais princípios, por favor, não me enquadrem num quadrante ou outro da política vigente, isto não. O que defendo, como sempre defendi, são princípios. E se eles são esquecidos, subtraídos, lesados, que se faça a justiça em nome do povo.
Ocorre, porém, infelizmente, é que muitas mãos que deveriam coordenar a limpeza do tecido social, pasmem, possuem, igualmente, as suas mãos sujas.
A moral, na política como em tudo na vida, deve se constituir naquilo que de mais sagrado existe. Moral conjugada ao exemplo particular que inspira ao coletivo.
Não me venham, por favor, senhores, com a justificativa lesante de que todos fazem, por isso, podemos fazer também. Não, isto não!
Se o País necessita de reformas, que venham elas.
Se o País depende do exemplo, que ele seja aplicado.
Se o Pais deseja mudanças, que elas sejam implantadas.
O que não deve, especialmente em política, que é coisa séria, é lançar mão da hipocrisia, do discurso fácil e frouxo, do acordo às escondidas, para manter-se tudo como está. O que não se pode perder é a vergonha na cara.
Entendamos, de uma vez por todas, estamos nos referindo a homens. Sabemos das fragilidades que são inerentes, ainda, a condição humana.
Há homens que defendem valores da boca para fora. Apresentam-se como baluartes do bom exemplo, mas, como bem diz o mestre Jesus, não passam de sepulcros caiados.
A indignação do nosso povo é enorme, mas sincera, fundamentada, certa.
Que se mude o governo, se assim melhor se entender.
Que mude o governo, se assim melhor ele entender.
Mas que se mude urgentemente este estado de coisas que, em breve, se nada for feito, ficará absolutamente insustentável.
Ao meu Recife, o meu apelo ardente por lutar incansavelmente pela justiça social, política e econômica, sem tréguas e sem medo.
O bem, senhores, no final, sempre há de vencer.
É o que tinha a dizer.
Joaquim Nabuco

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