11.5.15

Não posso ser um santo.



Não sou Santo

Tenho recebido perguntas sobre o que Dom Hélder Câmara acha do seu processo de beatificação iniciado pela Igreja Católica. Ultimamente, ele tem se mantido em silêncio sobre o assunto, mas em pelo menos por três ocasiões já se pronunciou direta ou indiretamente sobre o assunto. Uma no seu livro "EM RAZÃO DE VIVER" e outras duas neste espaço do seu blog que reproduzo abaixo.

NÃO SOU SANTO

Outra vez mais me deparo com um desejo de homenagem de amigos generosos em torno de uma candidatura de meu nome para ganhar vez no panteão dos santos católicos.
Ah! Meu Deus, não sabem o tanto que me falta, não sou santo e como estou distante da verdadeira santidade.
Não sou santo porque ainda peco em palavras e ações.
Não sou santo porque me desvio vez por outra em pensamentos insolentes e sem propósito.
Não sou santo porque ainda não sei perdoar como deveria.
Não sou santo porque tenho muito a fazer deste lado da vida para aparar as minhas queixas em relação a minha própria consciência.
Quanto me falta, Pai, para ser um santo. Sei que um dia o serei. Disto não tenho duvida alguma porque isto está reservado pelo Pai a todos os seus filhos.
Neste momento, porém, não sou santo.
Encontro, vez por outra aqui, aqueles a quem a nossa Santa Madre Igreja conferiu-lhes a santidade. Fico estupefato em saber o quanto eles se envergonham com tal condecoração.
A vergonha se manifesta exatamente por saberem de suas limitações e verem na terra venerados como servos de Deus em perfeição.
Dizem eles: “Se soubessem o que ainda passamos no dia a dia, sequer cogitariam, sequer pensariam em santidade”.
Pois é, amigos, ainda somos tão humanos por aqui, tão próximos da carne e do osso, que qualquer alusão a nossa possível angelitude nos causaria constrangimento.
Devemos venerar sim é ao Pai, a Santidade por excelência.
Devemos lembrar de Nosso Senhor Jesus Cristo, a quem todos nos subordinamos na terra, em aprender de verdade, o caminho para a santidade.
Devemos lembrar de Maria, que a todo instante trabalha para ajudar a todos os seus filhos espirituais.
Que o nosso Papa Francisco analise bem este pedido de amigos do coração e conclua que o velho Helder deseja mesmo é ser lembrado como um servo sincero do Nosso Senhor Jesus Cristo em tentar implantar, na essência, o seu Evangelho de amor.
Em paz!
Helder Camara
1º.07.13

Não posso ser um Santo

A santidade é algo que ainda não me compete merecê-la. 
Sei do grande apreço e atenção de todos os meus queridos amigos que tentam manter-me na lembrança da Igreja e dos homens pelo meu legado na seara do Cristo, mas confesso, apesar de agradecer os esforços neste sentido, que sou mesmo bem pequeno nos planos do Senhor.
Minhas obras, por mais veneráveis que possam parecer, foram fruto de uma devoção à causa que abracei. Não poderia ser diferente. Despendi minha atenção para com todos aqueles que me procuraram e, se mais não fiz, foi por absoluta limitação das forças e de recursos. Tudo, porém, teve uma motivação maior: servir ao Nosso Senhor Jesus Cristo.
A obra que participei não é minha, mas do conjunto de irmãos que participaram dela. Coube a mim, quando muito, o papel de incentivador, coordenador – às vezes, mas nunca de protagonista.
A Igreja me ofereceu a condição de servir ao próximo, de estar mais perto da dor de meus irmãos de caminho, somente isso. O que fiz foi apenas a minha obrigação como padre, nada mais.
As curas que porventura possam vir a ser atribuídas a mim, creiam, não passam da ação da própria fé. Foi a fé que as curou, na boa lembrança das palavras de Jesus quando atendia àquele que o procurava na ânsia de se livrar de seu sofrimento físico.
Jesus, porém, veio para estancar as dores da alma. Estas, sim, são as principais que devemos colocar toda a nossa atenção e dedicação para curá-la de verdade. E como é difícil fazer isso... Para começar não se pode pedir a ninguém que lhe tire do peito a dor da ingratidão, da falta de perdão, da incompreensão. Não se consegue estirpar do peito a face penosa que possuímos fruto da nossa invigilância.
Sou um pecador como tantos outros homens. 
Ainda me pego a pensar coisas que não deveria.
Ainda sou pego em atitudes que não deveria mais repetir.
Ainda não sou devidamente solidário com a dor do meu irmão como deveria.
Então, meus queridos, não posso ser um santo.
Daqui, pouco posso fazer para reverter a situação que já foi iniciada, mas, se houver possibilidade, evitem este desatino, em nome de Deus.
Sou muito grato por tudo, mas não gostaria de ver o meu nome no altar dos santos da Igreja, pois, ao vislumbrar outros tantos que receberam esta condição, vejo-me tão menor, muitíssimo menor.
Sou o jumentinho do senhor Jesus na sua chegada a Jerusalém, não mais do que isso. Creiam, irmãos, é a mais pura verdade.
Que Deus abençoe todos nós!
Helder Câmara
10.05.15

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