24.5.15

Vergonha
Não sou aquele de antes. Também pudera, quanto tempo já se passou do meu retiro do mundo dos vivos na carne. Faz tempo, muito tempo, que vi um Brasil a se construir, a tecer seus primeiros traços de nação. Era tudo um sonho, um grande sonho, tudo por fazer. Agora, senhores, resta-nos completar este sonho ou dá-lo vivas cores.
O que vejo hoje, apesar das conquistas inumeráveis que fizemos, é um país triste, cabisbaixo, sem energias, desolado.
O que vejo hoje, com meus olhos de espírito, é uma terra dizimada pelo pessimismo, pela desonra, pela iniquidade, todo um pavor.
Isto pode mudar, minha gente. Isto tem que mudar, minha gente.
Toda crise é passageira, bem sabemos, mas elas têm que nos deixar lições para não mais repeti-la. Que venham outras, ao longo dos tempos, mas por motivos novos não aqueles que nos fizeram sucumbir no passado.
O que vejo, porém, é que estamos nos lambuzando nos mesmos erros. E o qual o erro maior?
Dignidade na política, ou melhor, a falta de uma conduta moral reta no tratar das coisas públicas.
Este mal, infelizmente, é geral. Já pontuei em outros artigos esta doença que não se afasta, aquela que diminui o homem, que o deixa menor que os animais, a falta de vergonha na cara.
A honradez, que era em meu tempo, questão sine qua non para se estar na rua, atualmente é artigo raro, sobretudo no mundo da política.
Os acordos malversados, as conversas de mais valia, os tratados de esperteza, o raciocínio do lucro fácil com o dinheiro público, é o comum das conchavos dos gabinetes de todas as esferas do poder.
É um câncer, senhores, de profundas raízes, cujo doente nem se apercebe dele, ao contrário, acredita ser este um sinal de saúde nas suas relações políticas.
A que ponto chegamos com a hipocrisia do discurso pelo povo apenas para atender aos seus interesses mais que pessoais.
Que vergonha, senhores!
Tudo isso não é normal e há, no subterrâneo da sociedade brasileira, grande insatisfação. De todos os lados, o povo não acredita mais nos seus mandatários, nos políticos da vez, nos seus representantes que nunca os representou de verdade.
Que política vergonhosa se faz e a cara cínica de larápios do povo travestidos em cordeiros.
Somos uma nação que vencerá a estes desmandos, sem antes, contudo, experimentar os vexames dos escândalos. Quanta gente será pega ainda com as mãos e os pés na lama para isto acontecer?
Tenho pena deles, antecipadamente, sinto dó destes irmãos sem raciocínio do bem e desprovidos de caráter.
O mal que fazem a eles é tamanho, pois a resposta, aqui nos círculos espirituais, é de tão grande impacto que suas consciências gostariam de voltar do pesadelo num instante e não irão consegui-lo.
O dinheiro que faz falta aos projetos de habitação, às melhorias salariais dos servidores públicos, aos vencimentos dos professores e profissionais da sáude, enfim, de todo bem que deveria ter sido feito e não o foi, será cobrado, centavo a centavo, nos bastidores da vida física.
Que pena!
Muitos deles são tribunos de valor, possuem inteligência ímpar para a coisa pública, mas degeneraram-se, desprezaram os seus compromissos de ajudar ao povo mais sofrido nos seus projetos reencarnacionistas.
O mundo mudará, o Brasil se modificará, mas o preço a ser pago será alto, bem mais do que se pode imaginar.
De nossa parte, a confiança que novas bases de poder se erguerão depois do período de caos e desfaçatez. Novos homens e mulheres, como já me referi, adentram o corpo carnal para experiências libertadoras de toda a sociedade.
Que o bem político maior prevaleça.
Que a esperança de dias melhores vença.
Que o homem avance mais nos seus desígnios divinos.
É hora de mudar!
Joaquim Nabuco

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