26.7.15

LUZ NAS SOMBRAS

_ Somos hoje defrontados por grande tempestade magnética, e muitos caminheiros das regiões inferiores são arrebatados pelo furacão como folhas secas no vendaval.
_ E guardam consciência disso? – indagou Hilário, perplexo.
_ Raros deles. As criaturas que se mantêm assim desabrigadas, depois do túmulo, são aquelas que não se acomodam com o refugio moral de qualquer principio nobre. Trazem o íntimo turbilhonado e tenebroso, qual a própria tormenta, em razão dos pensamentos desgovernados e cruéis de que se nutrem. Odeiam e aniquilam, mordem e ferem. Alojá-los, de imediato, nos santuários de socorro aqui estabelecidos, será o mesmo que asilar tigres desarvorados entre fieis que oram num templo.
_ Mas conservam-se, interminavelmente, nesse terrível desajuste? – insistiu meu companheiro agoniado.
O orientador tentou sorrir e respondeu:
_ Isso não. Semelhante fase de inconsciência e desvario passa também como a tempestade, embora a crise por vezes, persevere por muitos anos. Batida pelo temporal das provações que lhe impõem a dor de fora para dentro, refunde-se a alma, pouco a pouco, tranqüilizando-se para abraçar, por fim, as responsabilidades que criou para si mesma.
_ Quer dizer, então – disse por minha vez -, que não basta a romagem de purgação do espírito depois da morte, nos lugares de treva e padecimento, para que os débitos da consciência sejam ressarcidos...
_ Perfeitamente – aclarou o amigo, atalhando-me a consideração reticenciosa –, o desespero vale por demência a que as almas se atiram nas explosões de incontinência e revolta. Não serve como pagamento nos tribunais divinos. Não é razoável que o devedor solucione com gritos e impropérios os compromissos que contraiu mobilizando a própria vontade. Alias, dos desmandos de ordem mental a que nos entregamos, desprevenidos, emergimos sempre mais infelizes, por mais endividados. Cessada a febre de loucura e rebelião, o Espírito culpado volve ao remorso e á penitência. Acalma-se como a terra que torna à serenidade e à paciência , depois de insultada pelo terremoto, não obstante amarfanhada e ferida. Então, como o solo que regressa ao serviço da plantação proveitosa, submete-se de novo à sementeira renovadora dos seus destinos.
Atormentada expectação baixava sobre nós, quando Hilário considerou:
_ Ah! Se as almas encarnadas pudessem morrer no corpo, alguns dias por ano, não à maneira do sono físico em que se refazem, mas com plena consciência da vida que as espera!...
_ Sim – ajuntou o orientador -, isso realmente modificaria a face moral do mundo; entretanto, a existência humana, por mais longa, é simples aprendizado em que o Espírito reclama benéficas restrições para restaurar o seu caminho. Usando nova máquina fisiológica entre os semelhantes, deve atender à renovação que lhe diz respeito e isso exige a centralização de suas forças mentais na experiência terrena a que transitoriamente se afeiçoa.


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