20.8.15

ALMAS ENFERMIÇAS

         -E este ambiente assim tumultuado pelo infortúnio, conta com o amparo de que necessita?
         -Sim – aclarou nosso amigo Silas -, muitas criaturas recuperadas na Mansão aceitam aqui preciosas tarefas de auxílio, incumbindo-se da assistência fraterna, em largos setores desta região torturada. Melhoradas lá, trazem para aqui as bênçãos recolhidas, transformando-se em valiosos elementos de serviço de ligação. Através delas, a administração do nosso instituto atende a milhares de consciências necessitadas e sabem com segurança quais os irmãos sofredores que se fazem dignos de acesso a nossa casa, após a transformação gradual a que se ajustam. Espalhando-se nos campos de sombra, em pequenos santuários domésticos, aqui continuam a própria restaurações, aprendendo e servindo.
         -Entretanto – continuou Hilário, curioso -, tão infortunada colônia de almas em desajuste não sofrerá o domínio das Inteligências perversas, quais as que vimos ontem no lado oposto a estes sítios?
         -Sim -, os assaltos dessa ordem são aqui constantes e inevitáveis, principalmente em torno das entidades que largaram cúmplices bestializados em antros infernais ou em núcleos de atividades terrestres. Em tais casos, as vítimas de semelhantes feras humanas desencarnadas padecem longos e inenarráveis suplícios, através da fascinação hipnótica de que muitos gênios do mal são cultores exímios.
         E, depois de ligeira pausa, Silas acentuou:
         -São esses alguns dos fenômenos de flagelação compreensível que alguns místicos do mundo, em desdobramento mediúnico, no reino das trevas, classificaram como sendo vastação purificadora. Para elês, as almas culpadas, depois da morte, experimentam horríveis torturas por parte dos demônios aclimatados nas sombras.
         As informações do Assistente, casadas aos gemidos e lamentações que ouvíamos sem cessar, impunham-no desagradável impressão.
         Foi por isso talvez que Hilário, penosamente, tocado pelos gritos em torno, interrogou, surpreendido:
         -Mas por que diz você flagelação compreensível?
         E, num desabafo:
         -Acha justo que tanta gente aqui se aglutine em semelhante desolação?
         Silas sorriu, triste, e obtemperou:
         -Compreendo-lhe o pesar. Indiscutivelmente, tanta dor reunida não seria justa se não viesse de quantos preferiram no mundo o trato diário com a injustiça. Não é claro, porém, que todos venhamos a colher o fruto da plantação que nos pertence? Na mesma leira de terra dadivosa e neutra, quem acalenta a urtiga recolhe a urtiga que fere, e quem protege o jardim tem a flor que perfuma. O solo da vida é idêntico para nós todos. Não encontraremos aqui neste imenso palco de angústia almas simples e inocentes, mas sim criaturas que abusaram da inteligência e do poder, e que, voluntariamente surdas à prudência, se extraviaram nos abismos da loucura e da crueldade, do egoísmo e da ingratidão, fazendo-se temporariamente presas das criações mentais, insensatas e monstruosas, que para si mesmas teceram.

Pequeninho trecho do Livro: Ação e Reação de Francisco C. Xavier e do espírito André Luiz.

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