18.8.15

Respeito

Por que trago tanta indignação?
Por que brado com tanto temor?
Por que me expresso com tamanha avidez?
Não podemos mais acobertar nas entranhas da Pátria o roubo eloquente da nossa dignidade.
Até quando teremos que suportar tanta desfaçatez como se fosse normal alguém roubar o Estado e ficar por isso mesmo?
Ou, pior, achar que tudo que se faz contra o Estado, solapando terrivelmente os seus bens e recursos, é algo muito natural?
A Nação se envergonha porque tudo não passa de um jogo de cena que é feito para se manter no poder e se locupletar dele.
Não cito apenas o que aí está, é preciso rever a república brasileira desde os seus primeiros dias. Bem mais. Precisamos rever toda a nossa história e encontrar lá as raízes de tamanho despautério que se arregimentou em nosso País.
Será que não há outro objetivo que não seja o de roubar os cofres do Estado? De tentar a todo custo tirar proveito do recurso público?
O País tem que mudar, mas para que isso aconteça é importante, imprescindível, que se mude a cabeça da nossa gente. Os políticos representam, tão somente, o reflexo do voto popular. Não aparecem políticos representantes do povo saindo do chão, mas do voto, então é necessário escolher melhor – bem melhor.
Não se pode deixar se levar por promessas sem fundamento.
Não se pode trocar o voto por um prato de comida ou outra ajuda qualquer.
Não se pode mentir para o povo e ficar impunemente.
Não prego a rebeldia inconsequente, prego, sim, a mudança de consciência e uma ativa posição de melhoria do status quo. O povo tem que mudar a sua maneira de ser e começa pelo voto, o voto responsável e sério.
Depois, quando a crise se instala, e não me refiro apenas ao contexto atual, é que se reflete sobre o mal que fez. Tudo bem, há aprendizado, mas ele tem que ser verdadeiro e se traduza em ações concretas de mudança.
Não se pode mais admitir que a corrupção seja tratada neste País como um crime qualquer. Nada disso. O crime da corrupção se agiganta cada vez mais. Faz parte, infelizmente, da nossa cultura política, é tolerável para muitos se não for exorbitante. Isto não mais. É necessário ter uma pena máxima no Código Penal brasileiro a quem for pego em corrupção contra o Estado, em todos os seus níveis.
Talvez com o perigo da pena máxima, 30 ou 35 anos de reclusão sem direito a flexibilidade, possam os agentes do roubo ao Estado pensarem duas vezes antes de se locupletarem das comissões por debaixo do pano.
Quando se tira um centavo que seja do bolso do povo, lesa-se toda uma nação. Prejudica-se toda uma cadeia de benefícios públicos. Elege-se, portanto,  o prejuízo de toda uma gente.
Esta semana, o povo foi novamente vai as ruas. O que se pede, ou deveria se pedir, não é apenas uma solução contra os desmandos comprovados do atual governo, isto é pouco. O que está em jogo é o futuro da nação brasileira, uma nação constantemente subtraída de seus direitos fundamentais.
Expressar-se contra ou favor deste ou daquele governo faz parte do embate democrático, mas há valores aos quais todos devem se curvar. A honestidade não deve ser uma exceção nas coisas de governo e de Estado, mas uma obrigação. Feri-la, minimamente que seja, deve ser severamente punida.
Necessitamos criar leis mais rigorosas que provoquem medo para aqueles que possuem o terrível vício de lesar os recursos públicos.
Quando criarmos tais leis, quando verificarmos a sua aplicação real, quando percebermos que tudo não é uma falácia, aí então, neste dia, tudo mudará.
Os recursos públicos serão mais bem aplicados.
Os serviços públicos serão mais bem administrados.
Os bens públicos serão mais bem preservados.
O público, o povo em geral, a nação, será, finalmente, respeitada.
Joaquim Nabuco

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