9.11.15

A Opção pelos Pobres

Aquele que deseja servir a Jesus deve primeiramente saber que servir a Ele é despojar-se de tudo que possui e se entregar totalmente à Sua vontade.
Ele disse claramente, sem rodeios algum, que quem quisesse segui-lo deveria deixar tudo para trás, inclusive família e dinheiro.
Estas palavras devem servir para toda a gente que abraça de verdade a causa do Nazareno. Desde o mais simples dos seguidores aos maiores da Igreja pelas suas responsabilidades.
Ora, convenhamos, os representantes da Igreja que abraçam Jesus, em especial, devem fazer o máximo para zelar por esta ordem. Eu disse o máximo.
Não é possível admitir que um representante eclesiástico, que vive com a batina oficial de lá para cá, que é a voz da Igreja numa determinada região, que possui até títulos maiores, dê o mau exemplo.
Foi com esta prerrogativa que Francisco de Assis, num ato corajoso e fiel às palavras de Jesus, despojou-se da família tradicional e da riqueza que possuía para entregar-se de corpo e alma à causa de Jesus.
Que belo exemplo de coerência dado pelo pobrezinho da Assis.
Ele sabia muito bem, como Jesus, que os prazeres do corpo nos levam a distanciar dos prazeres da alma. Não que sejam incompatíveis, mas a tendência é supervalorizar um e esquecer o outro.
O espaço que me sirvo aqui neste blog semanalmente tem sido o repositório das minhas reflexões do lado de cá da vida e, nesta perspectiva, vejo com mais clareza ainda o quanto a riqueza pode desviar o bom cristão de seu caminho inicial.
Por não saber lidar direito ainda com o dinheiro, muitos homens se perdem na trajetória de vida oferecida pelo Cristo.
As aparências, a vaidade, o orgulho nas suas mais diversas formas se configuram em armadilha traiçoeira para muitos que desejam representar a Jesus.
Minha opção em vida pelos pobres como preferência no pastorado seguiu a um exame profundo de consciência quando me deparava com os ensinamentos de Nosso Senhor Jesus Cristo.
Figuras como Francisco de Assis e Vicente de Paulo, por exemplo, foram muito fortes para a decisão que tomei. Mirei-me neles e vi que se desejasse, de fato, ficar com o Cristo seria incompatível fazê-lo possuindo posses e ostentação.
Foi, porém, o Cristo o maior exemplo de despojamento que tive.
Neste contexto, vejo que o mal secular da Igreja que abracei continua perene como sempre.
A dúvida do Papa Francisco, neste momento em que são descobertas contas que privilegiam o luxo e o conforto de cardeais e bispos, não é de colocar voga as determinações que deu, mas é saber, no fundo, se nossos colegas de batina, efetivamente, conhecem o pensamento de Jesus.
Como é chegar aonde chegaram na hierarquia católica e manterem os mesmos privilégios de antes capturados dos tempos de nobreza?
Quem segue a Jesus deve morrer para o mundo exterior e buscar no mundo interno todas as suas convicções.
Viver de maneira nababesca é contrariar princípios básicos de simplicidade que Jesus nos ensinou.
Pior, meus irmãos, é saber que esta dinheirama vem de recursos que seriam destinados aos mais pobres da Igreja.
Fico estupefato com a falta de sensibilidade de muitos que usam o crucifixo de Jesus no pescoço, mas o possui distante da sua cabeça e principalmente de seu coração.
A Igreja vai mudar, ela precisa mudar, para poder ser consentânea com as necessidades da sua época que, entre outras coisas, não tolera mais a ausência de coerência. Este é um dos motivos que faz com que haja certo descrédito da comunidade e que o nosso querido Papa Francisco vem tentando mudar esta imagem, sendo ele mesmo o espelho destas mudanças.
Não me venham, por favor, me acusar novamente de bispo vermelho. O que não se pode admitir é que tenhamos um comportamento torpe, profundamente difuso das palavras genuínas daquele que dizemos seguir.
Se no passado, por desaviso e despreparo de muitos, nos desviamos do caminho reto, hoje não temos mais argumentos ou desculpas para fazer o mesmo.
A Igreja deve procurar expressar o máximo possível os ensinamentos de Nosso Senhor Jesus Cristo.
Se queremos realmente segui-lo, então abracemos a sua cruz e nos postemos a carregá-la com consciência e alegria.
Despeço-me, fazendo um apelo ao Cristo para que estes nossos irmãos que ainda teimam em procurar-Te de forma enviesada possam ser despertados de sua letargia consciencial e abraçarem de verdade a Tua santa e divina causa.
Que Deus nos abençoe!

Helder Camara

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