22.5.16

Cultura Exploratória

Abriga-se no Brasil a intenção de torná-lo uma potência mundial. Quando se vê a extensão dos seus recursos naturais e a pujança de seu povo este sonho pode ser naturalmente acalentado, quando, porém, vislumbramos o que de fato se faz com esta terra é que perdemos quase de todo a nossa esperança.
Instalou-se no Brasil, durante muito tempo e que reina até hoje, uma cultura predominantemente exploratória. O País vive, dia após dia, de assaltos aos seus cofres e as suas riquezas. De norte a sul, de leste a oeste, o povo é saqueado por mãos ávidas por dinheiro e poder. Foi assim no tempo colonial, foi do mesmo jeito nos tempos do império e, naufragadamente, continou a sê-lo nos idos da república.
Esta intenção devorativa dos bens locais deixou sequelas no seu povo que viu subtrair, pouco a pouco, a sua esperança de ser uma nação próspera e feliz por querer ver suas riquezas distribuídas a muita gente. Ao contrário, criou-se demasiadamente uma concentração de renda, onde os poderosos de plantão se alimentavam cada vez mais para si sem fazer a justa distribuição da riqueza que era gerada.
Este foi o procedimento durante a geração da riqueza pela cana-de açúcar e depois na febre do ouro. Outra vez mais com a cultura do café que alimentou os barões de mais e mais poder. O povo, como sempre, ficava de espectador da abastança de uns poucos.
No Brasil atual, infelizmente, não é diferente. A grande maioria de seu povo ainda é pobre e muitos são contados na leva dos miseráveis. As políticas públicas recentes e os movimentos de justiça social deram um quinhão a mais a uma classe que historicamente ficou por fora da distribuição das benesses materiais. Maltratada, esfomeada, morando em casebres, vivendo ao Deus dará.
A realidade crua e cruel é que não soubemos, por puro egoísmo, traduzir em abastança geral o que aqui foi produzido. Uns poucos se acharam donos do País e até hoje esta cultura predomina. O mal maior, aliado a falta de sensibilidade com o bem geral, é que criamos uma corja de salteadores dos bens públicos e isto se tornou uma normalidade, infelizmente.
Em todos os recantos desse imenso País, o povo vive das esmolas oficiais governamentais ou da mendicância informal, diminuindo-se em dignidade como cidadão.
A corrupção, manifestada das mais diversas formas, engole as riquezas geradas para as mãos de uns poucos e ajuda a nutrir o grau de dependência da maioria. Os pobres ficam mais pobres, os ricos ficam mais ricos.
O mal se enraizou de tal forma no nosso tecido social brasileiro que se tornou natural, comum, provinciano. Não há a indignação real, mas apenas formal. Se não fosse como agora uma ação corretiva exemplar pelas vias da justiça todos estes salteadores do bem público continuariam passeando por aí como bons moços e benfeitores do País.
Estamos, ainda, bem distantes da condição ideal. Não é um mal que se vá rapidamente. Se fossem feitos os tribunais de correção em todo o País e em todos os níveis de poder, entraríamos em grande estado de caos porque salvar-se-iam poucos.
Afugentar do País a cultura da corrupção é prioridade moral de um povo que deseja de verdade ser livre e feliz, mas temos que tocar na moral da nação para que isto aconteça.
Temos mais.
Temos que invocar uma justiça implacável e nada benevolente para que cidadão algum se ache estimulado a corromper ou deixar ser corrompido.
Temos que abominar qualquer prática, mínima que seja, de corrupção moral ou material. A lei deve ser imperiosa para que todos se conscientizem que esta prática não é bemvinda.
Se não tocarmos com violência a corrupção da práxis de nosso País continuaremos dando voltas em si mesmo porque o progresso teimará em tardar por falta de coragem para se fazer o certo.
Somos um sonho de república, ainda, mas por que não venhamos a ensinar a nossos meninos, desde cedo, os valores inalienáveis da honestidade e da integridade para que tenhamos uma geração mais correta e intolerável ao furto do alheio?
Juntemo-nos as nossas mãos por um princípio. Não tomemos que isto seja cria de um partido, pois não é. É um mal social dado que os homens, numa parte deles, são enfermos em seus valores e desprezam a sua própria dignidade.
Sejamos altivos no que nos tange e elaboremos um código de conduta verdadeiramente cristão e, portanto, são em seus fundamentos maiores.
Honremos o nosso futuro deste jeito. Aí sim, poderemos almejar ser um País grande, porque justo e honesto seremos.
É assim que se começa a mudar um País.
Abracemos esta causa.

Joaquim Nabuco – Blog Reflexões de um imortal.

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