12.6.16

Uma Nova Ordem

A história da vida ocidental é escrita de diversas maneiras. Cada uma reflete o ponto de vista do seu autor. Uns enunciam o que cada um deles quer que os outros acreditem. Desejam que a sua versão seja considerada na posteridade como a verdade inconteste dos fatos. Graças a Deus que a pluralidade das ideias imperantes no mundo hoje permite que tenhamos uma visão mais abrangente da realidade nos seus diversos matizes.
Uma história que será muito ainda contada, por um longo período, será a de senhores monarcas, sobretudo nos séculos 18 e 19, que aproveitaram as ideias iluministas, vindas principalmente da França, para tocar os seus impérios sob a sua inspiração, os ditos déspotas esclarecidos.
Na verdade, tais senhores e senhoras estavam sob o domínio das influências iluministas em suas próprias almas. A espiritualidade necessitava do contágio daquelas ideias no berço da Europa para disseminar para outros povos aquela experiência governativa e de direção política. Os iluminados monarcas eram tão somente espíritos que se afinavam, mesmo antes de nascer, com estes princípios, e reencarnaram no seio de famílias que possibilitassem mais tarde abraçá-los. Foi assim que aconteceu.
Como se vê, não há improviso na história da humanidade. Tudo ocorre mediante prévio planejamento, mesmo que os resultados, às vezes, durem alguns séculos para se estabelecerem no status quo.
A verdade, queiram ou não os materialistas de plantão, é que há um perfeito “conluio” de ideias e interesses entre os dois planos da vida. Um reflete aquilo que o outro pensa e planeja. Quando os planos são de alguma forma distorcidos, eles agem em busca do restabelecimento da ordem desejada.
Conto tudo isso para justificar algumas ações que estão em curso no nosso imenso País.
As forças que atuam na política brasileira há algumas décadas, depois da ditadura militar, tiveram a oportunidade de implantar no Brasil uma nova forma de vida institucional. A Assembleia Nacional Constituinte foi o grande fórum de debates deste novo País que deveria se construir. Muito foi aproveitado naquela ocasião de sugestões para a edificação de um Brasil diferente. E a vida do povo, em muitos aspectos, evoluiu grandemente de lá para cá. Outros pontos, no entanto, não saíram do papel e amargamos hoje os frutos de uma mudança interrompida ou mal feita.
A grande mudança, porém, que se vislumbrava para aquela nova constituição, é que o povo pudesse se sentir soberano nas suas decisões. Uma série de normas foi induzida por nós para que pudéssemos exercitar, de fato, uma democracia mais que representativa, mas aos auspícios das lutas populares, cunhássemos uma democracia deliberativa ou participativa. Mecanismos para isso não faltaram em diversos segmentos.
Ocorre que ficamos a mercê do grande poder decisório. Uma parte dos constituintes vislumbrava a implantação de uma república parlamentarista. Outra, a que ganhou força e se estabeleceu, mantinha a tradição recente do presidencialismo. E isto, meus senhores, tem profundo reflexo nos dias de hoje.
Ora, o mal dos soberanos, desde então, era trazer para si a chave e solução dos problemas nacionais. Todos queriam, de certa forma, sentirem-se reis, déspotas esclarecidos, em certa ordem. Pura fachada, porém. Alguns, é claro, tentaram exercer este papel predominantemente, outros, no entanto, desejavam mais era a sua perpetuação no poder central.
As consequências desta ordem de coisas foram gradualmente a construção de um chamado presidencialismo de colisão, em contraponto ao que desejava muitos do lado de cá da vida, que era um parlamentarismo de inclusão.
Explico melhor.
Nossa ideia, de um grupo de pensadores e políticos brasileiros “mortos”, é que pudéssemos desenvolver uma política mais sadia e menos contaminada com os interesses individuais. A melhoria gradual da qualidade do parlamento, pensávamos, poderia promover uma nata de políticos responsáveis e comprometidos com o engrandecimento do Estado brasileiro. Tínhamos consciência dos erros que seriam cometidos, mas planejávamos que eles seriam pouco a pouco corrigidos e, no longo prazo, teríamos a sorte de possuir um colegiado de gestores competentes como se desenvolveu no seio da Europa nos dias atuais.
A ideia de inclusão se dá porque os políticos iriam se adaptar às novas exigências e começariam a traçar um projeto de País em longo prazo, onde seriam incluídos aos poucos os novos integrantes para que um dia pudesse predominar diante dos aproveitadores de plantão. Era a nossa estratégia, a nossa maneira de pensar o País visando um futuro melhor.
Em contrapartida, ao adotarmos o presidencialismo de coalização fizemos um processo distorcido e que fatalmente teria os seus dias contados, como de fato o vemos hoje. Os tais aproveitadores dos bens públicos fizeram neste tempo todo a festa de seus próprios bolsos e, infelizmente, culminou com o estabelecimento de uma gangue – desculpe o termo – que arregimentou boa parte das riquezas brasileiras. E não pensem que me expresso apenas de uma determinada facção política, não é isso. O que adianto é que a maioria dos políticos continuaram, como nos tempos áureos do império, a achar que o Estado era o quintal de suas casas e que servia apenas para se locupletarem. Este foi o triste final que ainda presenciamos.
Uma nova ordem de coisas está em ebulição. Não há ainda, do lado de cá, uma plataforma idealizada, pelo que sei, mas existem diretrizes que estão sendo, há algum tempo, postas em prática.
A primeira delas é a moralização da política. Seja qual for o governo ou facção, ele terá que governar sob o império da honestidade, da transparência, do zelo com o dinheiro público, com a responsabilidade social e econômica nas suas decisões.
Em segundo lugar, a ascensão paulatina de políticos sérios e comprometidos com o bem geral do País. Serão políticos de todos os partidos e tendências ideológicas. Abominarão esta dicotomia falida de direita e esquerda e abraçarão compromissos acima destas tendências ultrapassadas.
Num outro prisma de ação política estratégica para o nosso País temos a determinação de prioridades inegociáveis. Todos se juntarão num projeto único de Brasil na sua coluna central, cujas variações serão respeitadas, mas o centro do que se vai fazer ficará bastante claro, independentemente de quem esteja à frente do poder executivo.
Há outras diretrizes em aprovação e direcionamento para a vida prática dos brasileiros. Nosso destino, cremos nós, não é de estarmos a reboque das grandes transformações que o mundo exige, mas que sejamos, pelas nossas ações, protagonistas de uma nova era.
Junto-me a políticos como Miguel Arraes de Alencar, Tancredo Neves, Ulysses Guimarães, Darcy Ribeiro, Plínio de Arruda Sampaio, Leonel Brizola, Dom Pedro II, João Mangabeira, Juscelino Kubitschek e tantos outros que formam como que um parlamento brasileiro à margem do que aí existe. Pode parecer loucura para alguns, mas somente aqueles que não possuíam a política como ofício de vida é que deixam de se preocupar com os destinos da nossa nação depois de falecido.
Continuamos a ser os mesmos brasileiros. Sonhadores, comprometidos com uma nação melhor, com um povo feliz e respeitado nos seus direitos fundamentais. Sabemos, porém, que isto não ocorre sem luta, mas com destemor e coragem de mudar.
Por que você não se alia a esta grande frente de reconstrução nacional?
O nosso País é de todos e precisa da sua inteligência e trabalho para ser um bom lugar para se viver.


Joaquim Nabuco – Blog Reflexões de um Imortal

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