3.1.17

A Vida Continua

Partiu um bom homem da esfera dos homens na carne e veio se juntar aos homens na dimensão dos espíritos. Ele que foi meu irmão, muitas vezes meu confidente, meu amigo de tantas jornadas e embates, um companheiro de Igreja e de ideal, refiro-me ao meu querido Paulo Evaristo Arns.
Aqui chegou e ao abrir os olhos do espírito perguntou - soube depois:
- Já estou nos céus ao lado do Senhor ou me mandaram para onde eu deveria ir, expurgar meus pecados no inferno?
Depois do devido esclarecimento, ele novamente agiu com o bom humor que sempre lhe foi peculiar:
- Até nisso Nosso Senhor é generoso. Graças a Deus!
Pouco a pouco, ele toma pé do que está lhe acontecendo e não teve, como eu, muita surpresa com o que estava ocorrendo ao seu redor. Acordado no hospital onde lhe visitei, Arns está sorridente e feliz, fruto daqueles que possuem a consciência do dever cumprido.
Meu bom Arns enfrentou poucas e boas, mas a sua fé inquebrantável não o deixou esmorecer, pelo contrário, quanto mais lutas, mais forças arranjava para superação. Ele era assim, ele é assim.
Agora, revive os seus parentes e amigos. Satisfeito com a recepção que teve contou-me que parecia estar numa espécie de colônia de férias porque todos chegam sorridentes, felizes, e revê a todos com muito carinho e uma boa palavra. Lúcido, é assim que ele está depois de acordar do “sono dos justos”.
E foi exatamente a justiça uma das suas bandeiras principais senão a maior. Justiça social, justiça para todos os homens. Por esta razão, foi um gigante na sua São Paulo e nos dias tenebrosos da ditadura militar. Exemplo de coragem e fé, destemor e esperança, um verdadeiro discípulo de Jesus.
- Obrigado, Hélder, por tudo, é muito bom vê-lo por aqui.
- Que nada, Paulo, em pouco tempo você vai se acostumar com as coisas por aqui. Muda quase nada, mas as forças são redobradas e os recursos aumentam para quem deseja trabalhar.
- É, acho que me darei bem por aqui, se for assim, mas ainda sinto a falta dos meus que ficaram por lá.
Neste instante da conversa, a nossa querida Zilda me abraça e diz que ele precisa se acalmar um pouco, ir com calma ao pote, precisa descansar e deixar que as coisas se assentem normalmente. Concordei, despedi-me e parti para meu canto.
Ora, como são as coisas, meu Pai Amantíssimo! Uma hora aí, outra hora aqui, e a vida continua. Noutra condição, noutra dimensão, mas a mesma luta. A luta para sermos melhores e ajudar os outros no seu despertamento interior, é o máximo que podemos fazer.
E assim a vida continua e igualmente o nosso aprendizado constante. No início é duro de se acostumar, mas depois, como não tem jeito mesmo, o remédio é aceitar e se adaptar à nova ordem de coisas.
Ao meu querido Paulo Evaristo Arns, o meu agradecimento pelo ombro amigo e constante sempre que precisei e pedi, pela sua justa palavra, pelo seu exemplo de ser correto, pelo seu compromisso com Jesus e com a Igreja, por ser mui justamente meu amigo.
Ao Pai, meu agradecimento por existir e seguir a tua regra de vida, mesmo que nos primeiros passos e nas primeiras lições.
E assim a vida continua.

Helder Camara – Blog Novas Utopias

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