9.1.17

Transição

Em 1873, precisamente em Lisboa, tivemos uma conversa entre pares intelectuais. Na ocasião, debatíamos sobre a liberdade dos povos. Eu fui muito inquirido como a sociedade brasileira, de então, ainda sustentava a instituição da escravatura negra. Dizia, na ocasião, que a oligarquia reinante na política segurava qualquer avanço mais significativo, que as leis que foram aprovadas não encontravam eco na sociedade rural que via na escravidão negra uma forma de manutenção de seus privilégios. Argumentei, também, que a elite não gostaria de ser confrontada e que ter serviçais era mais cômodo para seus interesses.
Encerrada a estada na capital lusitana, fui para a Inglaterra e lá continuei o meu périplo de novidades sobre o direito da liberdade irrestrita para todo ser humano. As ideias liberais, naquela época, casavam como uma luva na liberdade também do trabalho, mas via-se com certa precaução o que seria de uma sociedade altamente industrializada. Naquele momento, quebrava-se, pouco a pouco, o paradigma de preocupação rural e se implantava um novo modelo de se ver a economia. A indústria de escala, as “máquinas modernas” e muitas outras inovações traziam medo para uma sociedade que se acostumou com outros valores.
Agora, neste pedaço de início do século, nos deparamos com uma análise semelhante àquela daqueles dias. Hoje, a indústria perde lugar para a completa automação e todos, inquietos e incertos, não sabem direito o que fazer ou onde tudo isso vai dar.
A máquina, agora ultramoderna em relação aos primeiros teares mecânicos, nos surpreende a cada dia e nos possibilita voos imaginativos extraordinários. Uma economia morre aos poucos, como que asfixiada, e outra surge repleta de novidades e surpresas. Como ontem, o medo ao novo permanece como sendo o grande vilão porque as pessoas não desejam perder seus empregos e privilégios, mas a mudança tem que acontecer, aliás, já está acontecendo aceleradamente em muitas partes do mundo. A mudança é inadiável, como já anteriormente defendi.
O medo será substituído por novas certezas, agora defendidas por uma geração nova de profissionais, bastante antenada com tais transformações. É lógico que neste período de transição as pessoas correrão em busca de um lugar ao sol ou de uma proteção aos seus direitos, afinal de contas, “trabalhei arduamente e acredito merecer o que conquistei a duras penas”, pensam muitos.
Tudo isso já está definido no plano divino para o nosso bem e cabe a cada um se encaixar nesta nova ordem de coisas.
Estes alertas que tenho feito neste espaço tem o fim útil de preparar mentalidades mais sadias e menos rancorosas com as mudanças tecnológicas. A mudança vai se instalar e pronto, não há como lutar contra elas.
As bênçãos do Senhor convergem para todos e não haveremos de ficar desabrigados de Sua Presença em nossas vidas. Tenhamos calma e tudo vai se estabelecer a contento. É só esperar, mas fazendo a sua parte.
Deus com todos!

Joaquim Nabuco – Blog Reflexões de um Imortal

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