17.2.17

A DOR E SUAS BENÇÃOS

No universo o caos é a presença da vida em ebulição, em desenvolvimento.
O repouso, se houvesse, significaria o aniquilamento da ordem, do equilíbrio.
Tudo se agita, desde as micropartículas às galáxias em incessante movimentação.
Sucumbe um astro pela decadência da energia e surge outro pela aglutinação de novas moléculas.
Só há vida em toda parte e, portanto, ação.
É natural que, no ser humano, esse processo se expresse como desgaste que produz dor.
O pântano e as águas estagnadas experimentam rigorosa drenagem, a fim de se transformarem em jardim e pomar.
O deserto sente a modificação da sua estrutura, mediante elementos químicos, de modo a reverdecer e coroar-se de flores.
A semente sofre o esmagamento e arrebenta-se em vida exuberante.
Nos animais, o parto é violência orgânica dolorosa, que liberta a vida que conduzia encarcerada.
Compreensível, desse modo, que o desabrochar da perfeição comece pelo despedaçar do grotesco em predominância no ser humano.
Erros que geraram calamitosos efeitos a reparar, desafios que promovem à conquista de mais elevados patamares se apresentam com freqüência.
São inevitáveis as ocorrências depuradoras, os sofrimentos de sublimação.
A dor é mensagem da vida cantando o hino de exaltação e glória à evolução.
Recebê-la com tranqüilidade constitui admirável realização íntima da lucidez intelecto-moral do ser 
humano.
Pressões, compressões, dilacerações constituem mecanismos da vida que se liberta do cárcere temporário para a exuberância da plenitude.
Compreender a função da dor é atitude solidária, caminhando-lhe ao lado, ao invés de enfrentá-la com a extravagância da derrota.
Entendida no seu significado profundo, torna-se amena e disciplinadora de impulsos graves quão danosos que persistem, dominadores.
Em razão disso, a atitude passiva, o pensamento de aceitação e entendimento contribuem para torná-la produtiva, enriquecedora.
Diante da transitoriedade do carro orgânico a que o Espírito se atrela, eis que o desgaste e a decomposição fazem parte dos fatores de destruição da aparência, para que o ser eterno singre os rios incomparáveis da imortalidade.
Sem a histólise, que precede à histogênese demorada, a lagarta jamais flutuaria no ar como borboleta delicada.
As condições físicas, portanto, são uma permanente transformação e a dor representa as mãos do Divino Escultor trabalhando em formas novas, aprimorando arestas e corrigindo anfractuosidades...
Alegra-te, por haveres sido contemplado pela dor, por mais paradoxal que te pareça.
Bem-aventurado aquele que sofre em paz, quando outros, desassisados, em tranqüilidade infelicitam vidas...
Mantém-te confiante, mesmo sofrendo, e transforma as tuas ansiedades em gratidão a Deus, por haver estabelecido diretrizes diferentes das tuas, que te farão realmente feliz para sempre.
Deixa-te, pois, arrastar pelas mãos do sofrimento digno, e converterás lágrimas em sorrisos, tristezas em júbilos, frustrações em pacificação interna, arrimado em Jesus, que nunca te abandonará.
Dor bendita, que liberta e sublima, louvada sejas!

Livro: Fonte de Luz - Divaldo P Franco - Joanna de Ângelis

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