19.2.17

Nova Queda da Bastilha

A verdade, doa a quem doer, é que há um apodrecimento das instituições políticas brasileiras, e isto não é um fenômeno recente, ao contrário, dura anos, desde a ditadura militar nos idos de 1964, e perdurou, infelizmente, depois do movimento de redemocratização com a saída dos militares do poder.
Este fenômeno é compreensível, mas jamais aceitável. As instituições políticas brasileiras, em grande parte representada pelos partidos políticos, deram-se as mãos, de um jeito e de outro, para a manutenção do status quo, ou seja, da preservação de privilégios e bandeiras que apenas foram apropriadas por diversas mãos.
No cerne deste descompasso está a própria formação moral dos agentes políticos. Direita, esquerda, centro, pouco importa a posição, o que se vislumbrou neste pedaço de 30 anos foi uma completa desorganização partidária em termos de princípios. Uns poucos idealistas, independentemente da corrente ideológica, tremulam com argumentos de ordem que deverasmente não são ouvidos. Ignoram-se as falas, põem-se de lado os estatutos constitutivos e colocam-se como prioridade tudo que possa ser feito para a sustentação no poder. Não que isto não seja legítimo, mas as armas e argumentos utilizados são absolutamente reprováveis. Mudam-se os ocupantes das cadeiras, mas o formato do assento permanece literalmente o mesmo.
Os homens de poder dignificam-se pela preservação de valores, pela coerência de atitudes e pela fibra em defendê-los. Não são políticos de ocasião ou oportunistas de plantão, são ideólogos de uma nova sociedade e acreditam nisso, mas com retidão de comportamento.
Neste caso, não importa o partido, haja vista que já se filiou ao maior deles, o partido da honra e da coerência de princípios. Pode-se discordar do conteúdo, dada a diversidade de propostas de mundo, mas não da sua trajetória coerente de luta.
O discurso de poder tende a mudar, mesmo para os mais altos revolucionários. Criticam determinadas práticas, mas as repete do mesmo modo quando se encastelam no poder. É quanto a isto que devemos, todos nós, nos rebelarmos.
Há os defensores do povo. Há os defensores da elite. Há os fervorosos de classe. Há os ardentes de posição. Há os pragmáticos e habilidosos. Há os encrenqueiros e maldosos. Tudo há. O que interessa, de verdade, é se as regras do jogo democrático são corretamente empregadas e não apenas como argumento de retórica.
Este é mundo político brasileiro. Em muito parecido com outras democracias, mas igualmente distante das boas práticas europeias e algumas norte-americanas.
Se não desejamos no passado manter o parlamentarismo, que daria nova cara aos governos, o presidencialismo se mostra falido, haja vista que elege-se a persona ao programa, o discurso à ação, o blefe ao compromisso.
Isto se dá ainda, é verdade, pela pobreza política que parte de nosso povo ainda vive. As migalhas devem ser preservadas – pensam uns. Os “bonzinhos” devem continuar a ser eleitos – asseveram outros. E por aí vai um sem número de argumentos vazios e tendenciosos.
A grande reforma política se estabelecerá, infelizmente não agora. Por enquanto, no máximo, apenas ajustes ocasionais. A grande mudança virá do próprio povo, povo eleito com outras ideias que se juntarão a novos projetos de governo e de legislação.
Enquanto isto tudo não se modifica, façamos por onde termos uma democracia melhor. Justa, soberana, honesta.
O povo pede mudanças por que não ousar fazê-las?
Por uma nova queda da bastilha, agora em terras brasileiras.
Um novo apogeu de ideias e ações, revolucionárias e consentâneas à criação de um novo tempo e por que não?
Joaquim Nabuco – Blog Reflexões de um Imortal

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