23.3.17

A música e seus efeitos

    PERGUNTA: - Quando lemos obras mediúnicas que nos falam de "melodias" que fluem do Espaço e ressoam "misteriosamente", temos a impressão de que elas provêm espontaneamente do Cosmo, mas sem qualquer intervenção de inteligências espirituais. Estamos certos, ou essas melodias são executadas por entidades angélicas?
    ATANAGILDO: - Na ascensão espiritual, a alma vai aprendendo e criando, conforme o desenvolvimento de sua consciência. Se o selvagem traduz as suas emoções através do "tamtam" monótono, a emotividade do Arcanjo só se revela através de uma sinfonia indefinível para o vosso entendimento ainda muito acanhado. A música é um prolongamento vivo da alma e é mensagem afetiva e apreciada em qualquer região cósmica em que se manifeste, tanto quando se resume apenas num punhado de sons brutais que se afinam à natureza rude do zulu, como quando se transforma numa encachoeirada fusão de melodias vibrando num oceano de sons, para servir de pouso às esferas rodopiantes e enlevo sideral aos arcanjos constelatórios. É um cântico divino e sublime da vida, que o Criador inspira à alma para acelerar a sua ventura eterna. Deus, o Regente Cósmico, organiza e dirige a orquestra sinfônica sideral sob a sua batuta eterna; mas, à semelhança da Poesia, da Beleza, da Inspiração, o êxtase que a música produz tende a se manifestar gradativamente à consciência do espírito. Deste modo, haveis de compreender que a música celeste está tão distante para vós quanto as "Tocatas" e "Fugas" de Bach ou "Tannhauser" de Wagner estão distantes do batuque do selvagem. É melodia indescritível, que expressa a harmonia das esferas celestiais, das suas humanidades angélicas e da própria criação do universo. O papel importantíssimo da música sobre as nossas almas é o de "desmaterializar" a nossa personalidade inferior, para eclodirem em nós os sentimentos definitivos do anjo criador. Ela apura a nossa emotividade e adoça a razão, impelindo-nos para realizações as mais pacíficas e generosas. Assim como a melodia terrena vos transmite o sentimento ou a emotividade do seu autor ou compositor, a música celeste cumpre o mesmo objetivo, trazendo em suas asas magistrais a mensagem sonora dos arcanjos e do próprio Deus! Como fazer-vos compreender tal grandiosidade através apenas dos singelos sinais gráficos da linguagem reduzida do homem encarnado? Visto que, para sentirdes essa música tão elevada, necessitaríeis fundir-vos com o potencial harmônico que estivesse vibrando no éter, para o qual não possuís ainda a sensibilidade desenvolvida, é óbvio que também não a podereis entender em vosso atual estado de evolução espiritual.
    PERGUNTA: - Podeis nos explicar o que vem a ser "música celeste"? Há alguma diferença entre ela e a música que conhecemos?
    ATANAGILDO: - É certo que poderíeis fazer uma idéia aproximada da música celeste, mas tão-somente da que se executa nas comunidades ou nas metrópoles astrais e que, embora de padrão musical superior, sempre lembra algo semelhante ao que ainda se executa na Terra. Por isso os desencarnados de nossa esfera sempre se enternecem com certas melodias que lhes dizem algo familiar à alma; se ouvissem apenas composições estranhas, sem se aperceberem da profundidade do seu sentimento e se afinarem psicologicamente à sua mensagem de sons, é certo que haviam de se desinteressar delas e com bastante razão. As criaturas que na Terra eram apaixonadas pelas composições beethovenianas, que se deliciavam ouvindo a "Heróica", a "Pastoral" ou a "Coral" - é fora de dúvida - ainda viverão indescritíveis momentos de êxtase espiritual, quando na metrópole do Grande Coração puderem ouvir essas mesmas composições através de instrumentação superior a tudo o que já conheceis no mundo físico. Do mesmo modo, também descobrirão novas nuanças e riquezas de interpretação que desconheciam na Terra.
Mas para além das comunidades espirituais do astral próximo da Terra, a música celeste é alimento predileto dos anjos, e se encontra muitíssimo distante de nossa atual execução sideral. Não existe cérebro encarnado capaz de entendê-la pelos sentidos humanos, assim como também não pude encontrar alguém, por aqui, que ma pudesse explicar satisfatoriamente. A sua exata compreensão só é possível depois que tenhamos passado pela experiência pessoal de senti-la, pois a música celeste, na verdade, não se prende à pauta e ao tempo, nem obedece às regras traçadas pela limitação dos sentidos humanos. Como se poderia demonstrar a eloquência, a força e a grandiosidade da "Quinta Sinfonia" de Beethoven a quem apenas aprecia o samba? De que modo servos-ia possível sentir a música celeste, que é completamente liberta de qualquer inspiração terrena ou de regras por vós conhecidas, comparando-a com os "ruídos" agradáveis da música humana?
    PERGUNTA: - A música celeste é, então, uma maior expressão de harmonia; não é assim?
    ATANAGILDO: - Não encontro vocábulos para defini-la; se quiserdes, imaginai a música sem instrumento e produzida pela combinação dos ritmos e das pulsações criadoras do próprio Pai. Sem dúvida, a música é sempre a intérprete da harmonia, a começar pela mais sutil vibração;


Livro: Sobrevivência do Espírito - Hercilio Maes - Ramatis e Atamagildo

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