8.12.17

O CEGO DE SILOÉ
    Parte II    (continuação)
    Encontrando Jesus o "cego de nascença", viu logo que a cegueira era de nascimento e não provinha do pecado dos pais, por isso deliberou curar o cego.
    Se a cegueira desse cego viesse do pecado dos pais, é bem possível que o Mestre não se arrojasse a fazer tão dificultosa cura.
    De quantos cegos espirituais está cheio o mundo, sem que o próprio Jesus atualmente os possa curar!
    E isso por quê? Porque a cegueira é proveniente do pecado dos pais; a "religião enganosa" dos pais fez belidas nos olhos dos filhos, e como a vista é coisa melindrosa, eles não permitem que se lhes tirem a catarata.
    A cegueira pode ter por causa o pecado do próprio cego.
    Como analisar esta hipótese sem admitir a lei da reencarnação?
    Como pode Deus criar uma alma pecadora, e por ser pecadora, condená-la à cegueira?
    Admitindo uma única existência terrestre para cada indivíduo, não se explica porque uns nascem cegos, outros surdos, outros aleijados, outros idiotas, outros estúpidos; ao passo que outros são sadios e inteligentes!
    As religiões dominantes não explicam essas anormalidades.
    Encarando-se a questão em face da Filosofia Espírita, aquilo que parecia hipótese, o viver muitas vezes na Terra, torna-se realidade. Chega-se à conclusão de que o Espírito já existia antes do nascimento do corpo, e continua a existir depois da morte desse mesmo corpo, e, por uma série de vidas sucessivas, se vai aperfeiçoando, passando por provas necessárias ao seu progresso e adquirindo conhecimentos indispensáveis à sua evolução.
    O que é deformado fez mau uso dos seus membros; o aleijão é o resultado do mau emprego dos órgãos que o Espírito fez, quando encarnado de outra vez na Terra.
    A língua foi dada ao homem para falar bem; se ela falar mal, estará desviando o seu itinerário e paralisar-se-á um dia, como a locomotiva fora dos seus trilhos.
    Os olhos são duas luminárias para guiar o corpo, como diz o Evangelho - se eles não desempenham esse mister, se escurecem.
    É a isto que se chama "cegueira produzida pelo próprio cego".
    Entretanto, este pecado é mais fácil de extinguir-se do que o outro, esta cegueira é mais fácil de ser curada do que a outra, que resulta do pecado dos pais, porque quando foi o próprio cego que pecou, o pecador é um só, e quando foram os pais que pecaram, os pecadores são três: o pai, a mãe e o filho; o pai porque ensinou, a mãe porque confirmou, o filho porque aceitou e referendou o pecado, passando-o à sua descendência.
    Cegos por pecados próprios, diz o Evangelho haver Jesus curado muitos durante a sua peregrinação na Terra. Além daqueles a quem abriu os olhos diante dos mensageiros de João Batista e em outras ocasiões narradas pelos evangelistas, refere Mateus que, logo após a ressurreição da filha de Jairo, curou a dois que o seguiam e clamavam: "Filho de Davi, tem compaixão de nós".
    Quando Jesus passava na estrada de Jericó, outros dois clamavam: "Filho de Davi, tem misericórdia de nós".
    E o divino Mestre fê-los recuperar a vista.
    Passemos à terceira hipótese:
    A cegueira de nascença é graça de Deus para que suas obras sejam manifestas.
    Todas essas doenças incuráveis que Jesus curou, durante a sua passagem por este mundo, são graças de Deus; e os doentes, longe de serem pecadores ou sofrerem a conseqüência do pecado de seus pais, eram Espíritos missionários, enviados para que neles as obras de Deus fossem manifestas. Foi isto que Jesus quis dar a entender, quando curou o "cego de nascença", e disse, em primeiro lugar, "que nem ele nem seus pais pecaram, mas deu-se isto para que as obras de Deus fossem manifestas"; e em segundo lugar, quando mandou o "cego" lavar-se na piscina de Siloé.
    Siloé quer dizer enviado, e mandando Jesus lavar-se o cego naquela piscina, quis mostrar a seus discípulos e aos mais que assistiam à cura, que aquele "cego" era "enviado".
    Enviado para que as obras de Deus fossem manifestas publicamente por seu intermédio.
    Passemos agora ao cego propriamente dito.
    Exame feito no cego.
    Jesus passou, viu um homem cego, viu que a causa da cegueira não era pecado próprio do cego, nem de seus pais.
    Viu mais, que a cegueira em vez de ser treva, era luz, e deliberou curar o homem, porque, curando-o, as obras de Deus seriam manifestas.
* * * * *
    Havia muitos anos vivia o homem que era cego, e vivia andando pelas ruas porque era mendigo e esmolava.
    Todos os dias os fariseus encontravam esse homem e nunca se deram ao incômodo de examiná-lo, nem de tentar curá-lo.
    Foi preciso que os vizinhos do cego o levassem à sinagoga, à igreja, para ser examinado pelos sacerdotes do farisaísmo que, apesar de todos os testemunhos de cegueira, não quiseram crer que o homem tivesse sido cego de nascença!
    Inquiriram as testemunhas, mas não creram nas testemunhas; inquiriram os pais do cego, e não acreditaram nos pais do cego; inquiriram o cego e não acreditaram no cego; finalmente, por causa de todas as informações e afirmações, o cego foi expulso da igreja! Sabendo Jesus disso, deliberou dar uma lição aos fariseus, pois era mister fazer a obra de Deus resplandecer ainda com mais intensidade.
    Chamou, então, o que fora cego e lhe perguntou: "Crês tu no Filho de Deus?" "Quem é ele, Senhor?", perguntou o cego. "Sou eu que falo contigo", respondeu Jesus. O homem que fora cego tornou: "Creio, Senhor", e o adorou. Jesus então disse abertamente: Eu vim a este mundo para um juízo, a fim de que os que não vêem vejam; e os que vêem se tornem cegos.
    Esta sentença mostra a justiça dos desígnios de Deus e a sua admirável sabedoria.
    O cego que era pobre, que mendigava, despido de sabedoria, de aparatos, fora da igreja, foi curado, viu Jesus, afirmou sua crença no Filho de Deus e o adorou.
    Os fariseus, que não eram cegos, que não eram pobres, que não mendigavam, que eram cheios de sabedoria terrena, que eram sacerdotes e estavam dentro das igrejas, viram Jesus, mas não creram em Jesus, não o receberam e até o perseguiram e crucificaram
    Que triste contraste entre os fariseus e o cego!
    E por que é assim? Porque o cego se fez cego por amor à glória de Deus, para que a glória de Deus fosse manifesta; ao passo que os fariseus se fizeram videntes por ódio à glória de Deus, para que a glória de Deus não fosse manifesta.
    O que não via começou a ver, e os que pensavam ver se tornaram cegos! Cegos, completamente cegos; cegos da pior espécie de cegueira: a cegueira espiritual, moléstia que permanece na vida eterna.
    Tão cegos eram os fariseus, e tanto mais cegos se tornaram, que chegaram ao auge de não mais se conhecerem e de nem mesmo saber que eram cegos! Tal foi a confusão em que se achavam que perguntaram a Jesus: "Porventura somos nós também cegos?"
    E Jesus respondeu-lhes, fazendo alusão ao cego de nascença a quem havia curado, porque não tinha pecado e por ser necessária a manifestação das obras de Deus: "Se fôsseis cegos não teríeis pecado algum, mas o vosso pecado fica subsistindo, porque vós dizeis: Nós vemos."
    Mas, que viam os fariseus?
    Viam o mundo, viam as ruas, viam as casas, viam as coisas da Terra, viam o dinheiro!(*)
    Mas, será isto, verdadeiramente, ver? Se assim é, qualquer asno também vê. O asno também vê as ruas, as casas, os carros.
    Os fariseus viam como vêem os asnos, mas não viam como vêem aqueles que querem ver manifestas as obras de Deus. Na verdade, eles não viram Jesus, não viram a cura do cego, não viram o cego, não viram as obras de Deus que foram manifestas a todos! Entretanto, o cego fora curado diante deles, Jesus estava à sua frente, e as obras de Deus foram manifestas ante os seus olhos!
* * * * *
    As graças de Deus são luzes que nos iluminam o caminho da vida, que nos mostram as obras divinas, desvendando-nos o reino da felicidade imortal.
    Quem ama a Deus e procura cercar-se de suas obras, se é cego, fica vendo; se é surdo, ouve; se é mudo, fala; porque as obras de Deus vivificam os nossos sentidos para nos extasiar com as suas maravilhas.
    (*) Viam a lei, e diz Paulo: "É evidente que pela lei ninguém será justificado diante de Deus, porque o justo viverá da fé. "(Gál.,III, 11.)


Livro: Parábolas e Ensinos de Jesus - Cairbar Schutel

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